Um terroir de mentirinha?
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A ciência está cada vez mais interessada em entender a questão do terroir. Mas talvez essa seja uma faca de dois gumes! Leia, e entenda...
Apesar de alguns ainda considerarem puro marketing, o conceito de terroir é baseado na teoria de que a terra onde as uvas são cultivadas confere ao vinho uma característica única.
E um grupo de cientistas da Universidade da Califórnia tem se dedicado ao tema, e vem avançando muito nesse assunto...
Primeiro, eles conseguiram provar que uvas de uma mesma região têm os mesmos micro-organismos, como bactérias e fungos, abrindo a discussão a respeito da contribuição desses micro-organismos para as características de cada terroir. Se quiser ler mais sobre esse estudo, clique aqui.
Agora, um estudo de 2016, publicado no mBio, jornal científico da American Society for Microbiology dá mais um passo.
Esses cientistas analisaram uvas provenientes de 40 diferentes vinhedos, no norte da Califórnia. Utilizando ferramentas de alta tecnologia, eles compararam os micro-organismos presentes nas uvas, e encontraram diferentes padrões, dependendo do vinhedo de origem da uva.
Depois disso, as uvas foram vinificadas, e eles analisaram os padrões de bactérias e outras substâncias formadas depois da fermentação, no vinho.
Cruzando todos esses dados, eles verificaram que era possível prever, com base na microflora da vinha, quais seriam os padrões de composição química encontrados nos vinhos, com 80% de precisão.
E esses padrões podem explicar, de maneira científica, “porque o Malbec da Argentina tem um gosto diferente do Malbec da Califórnia”, segundo o Dr. David Mills, professor do departamento de Tecnologia e Ciência da Alimentação, da Universidade da Califórnia.
Esse estudo pode contribuir de várias maneiras, para a indústria do vinho. Pode permitir que enólogos previnam-se contra problemas microbiológicos, melhorando a qualidade dos seus vinhos. Pode ajudar um produtor a prever se determinado local é adequado ou não para o plantio da vinha.
Agora, vem a pergunta: Por que nós dissemos, no início do artigo, que essa poderia ser uma faca de dois gumes?
Porque já há quem pense que, com o avanço desse tipo de estudo, talvez seja possível, no futuro, “imitar” terroirs. Ou seja, talvez seja possível reproduzir fielmente o estilo de um vinho, por exemplo, da Borgonha, sem nunca ter plantado uma vinha sequer naquela região.
Os pesquisadores envolvidos nesse estudo duvidam dessa possibilidade. Tomara que eles tenham razão, porque esse tipo de ação talvez faça o mundo do vinho perder, mais do que ganhar.
Afinal, diversidade não é um dos seus elementos mais interessantes?
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